Brasil deve exportar menos para China com preço menor de commodities.

Depois de um crescimento médio anual de 40,6% desde o início da década, as exportações brasileiras, em valor, para a China devem diminuir no próximo ano, em razão da forte queda no preço internacional das commodities, em especial minério de ferro e petróleo, que representam quase 40% das vendas para o país asiático. A alta das cotações desses produtos antes do agravamento da crise internacional, em meados de setembro, foi a principal responsável pelo aumento de 67,3% das exportações brasileiras para a China até setembro, aponta estudo do Conselho Empresarial Brasil-China.

O volume de petróleo embarcado, por exemplo, subiu apenas 4,6%, enquanto o valor teve alta de 90,6%. No caso do minério de ferro, a alta de preços respondeu por aumento de 40% nos valores exportados, apesar de a quantidade ter crescido só 3,8% em relação a igual período do ano anterior. Além da queda nas cotações, os embarques de soja vão cair em razão do aumento da safra chinesa, que deve ter um ano excepcional. A retração já se iniciou em outubro, com redução de 48% das importações do produto. O Centro de Informação de Grãos e Óleo da China prevê que a colheita de soja de 2008 será 29,7% maior que a do ano passado, o que vai reduzir as compras do exterior.

O país asiático é o maior destino das exportações brasileiras de soja, que ficaram em segundo lugar nos embarques no ano passado, depois do minério de ferro. A devastação provocada pela crise financeira global levou os países desenvolvidos à recessão e desacelerou o ritmo de crescimento dos emergentes, incluindo a China. Com expansão média anual de 9,8% nas últimas três décadas, o país asiático foi o principal responsável pelo boom no preço das commodities registrado nesta década, que beneficiou exportadores brasileiros de minério de ferro, soja e petróleo, bens que respondem por dois terços de nossas vendas à China.

A crise derrubou a cotação desses produtos e terá impacto direto na balança comercial do próximo ano. O barril do petróleo chegou a ser cotado a US$ 150 na metade do ano e agora está em US$ 60. Na semana passada, a Agência Internacional de Energia reduziu sua previsão de preços para o próximo ano de US$ 110 para US$ 80. A China já é o terceiro maior cliente da Petrobrás e suas compras de petróleo somaram US$ 1,25 bilhão no período de janeiro a setembro, 90,6% a mais que em igual período de 2007. O aumento da demanda chinesa transformou o minério de ferro no principal produto de exportação do Brasil, com vendas totais de US$ 10,6 bilhões no ano passado, ou 6,6% das vendas. Desse valor, a China ficou com US$ 3,71 bilhões, o equivalente a 35%.

As fabricantes de aço chinesas, que são as principais clientes da Vale, enfrentam quedas brutais na sua produção e estão com estoques crescentes, o que as levou a interromper as compras de minério de ferro. Os preços dos contratos de longo prazo são negociados para um período de um ano e, em 2008, tiveram reajuste de 70%. A previsão de analistas é que os contratos para 2009 terão a primeira queda de preço desde 2002. Não há consenso sobre o tamanho da redução, mas as apostas são de que ela será de no mínimo 20%. A cotação à vista do minério de ferro perdeu dois terços de seu valor desde o começo de 2008 e está bem abaixo do valor fixado nos contratos de longo prazo. Zou Jian, diretor da Associação Chinesa de Ferro e Aço, afirmou na semana passada que os preços do próximo ano vão cair, mas não fez previsão de porcentuais. Em sua avaliação, a importação de minério de ferro pela China em 2008 será de 435 milhões de toneladas, um aumento de 14% em relação ao ano passado. Sua previsão é que o volume fique inalterado no próximo ano.

Se o preço cair, isso significa que as exportações brasileiras também terão redução. O pacote de investimentos lançado pelo governo chinês há uma semana deve evitar uma queda ainda mais acentuada das cotações, na medida em que aumentará a demanda por aço e ferro. O principal foco das medidas é o investimento em infra-estrutura, com a construção de ferrovias, estradas, aeroportos e portos. Também estão previstos gastos em casas populares e nas áreas de saúde e educação. Mas analistas afirmam que ainda não está claro quanto do pacote de US$ 586 bilhões representa gastos extras, que ainda não estavam previstos nos planos de longo prazo do governo chinês. Isso é essencial para definir o impacto adicional que o pacote terá sobre o crescimento.

Fonte: Agência Estado

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